Sexta-feira, 27 dez 2024 - 07h45
Por Maria Clara Machado
O continente antártico, a região mais fria e inóspita do planeta terra, praticamente dominada pelo gelo, está se transformando em ritmo acelerado. 35 anos de observações dos satélites Landsat, da NASA, revelaram áreas verdes nas bordas da Península Antártica, aumentando numa velocidade surpreendente.
Bancos de musgos dominam a paisagem da Ilha Ardley, ao norte da Península Antártica. Crédito: Dan Charman/divulgação Universidade de Exeter
As transformações estão acontecendo rapidamente à medida que as temperaturas aumentam e as geleiras encolhem. A ocupação da Península Antártica por área verde avançou de 0,86 para 11,95 quilômetros quadrados entre 1986 e 2021. Além disso, é foi notável a expansão da vegetação a partir de 2016. Mapas divulgados pelos pesquisadores mostram a concentração de área verde na Península Antártica abaixo de 300 metros de elevação no período do estudo entre 1986 e 2021. Os hexágonos destacados nos mapas correspondem às áreas terrestres, onde os níveis de vegetação e densidade das plantas eram altos suficientes para indicar a presença “quase certa” de verde, baseados no Índice de Vegetação por Diferença Normalizada (NDVI), gerado pelos satélites da NASA. Os valores do NDVI de observações Landsat foram computados sempre em março de cada ano, época que abrange o fim da estação de crescimento da vegetação. Os mapas revelam uma grande expansão da cobertura vegetal especialmente no grupo de ilhas Shetland do Sul, no canto superior esquerdo, e em partes do lado oeste da Península. Mapas elaborados com dados de satélites mostram o grande aumento das áreas verdes na Península Antártica nas últimas décadas. Crédito: NASA
Em outras observações, estudiosos dataram por carbono amostras de núcleo retiradas de bancos de musgo ao longo do lado oeste da península. Assim, descobriram que as taxas de acumulação de musgo subiram nos últimos 50 anos, indicando um aumento na atividade biológica no cenário das mudanças climáticas. A Península Antártica é a região do continente gelado que está mais vulnerável ao aquecimento e um dos lugares com a taxa mais rápida do planeta. A maioria de suas geleiras está recuando, assim como a extensão do gelo marinho está diminuindo. “Diante do recuo glacial, estamos pensando no que vem a seguir”, questiona um dos líderes da pesquisa, o cientista ambiental Tom Roland da Universidade de Exeter, no Reino Unido. “Uma preocupação particular é que onde há musgo, a formação do solo tende a criar mais oportunidades para plantas não nativas encontrarem um ponto de apoio. Quando isso acontece você está olhando para uma potencial erosão da biodiversidade”, acrescenta o especialista em sensoriamento remoto Olly Bartlett, da Universidade inglesa de Hertfordshire. A presença humana no continente para turismo e pesquisa pode resultar na introdução de espécies não nativas, embora sementes e esporos também possam chegar pelo vento. Vários casos de invasões já foram documentados no norte da Península Antártica e ilhas próximas. Somado a isto, a biossegurança se tornará cada vez mais crítica com as limitações de temperatura em ecossistemas frios. Os estudiosos afirmam que muitas questões permanecem no ar sobre quais tipos de comunidades de plantas compõem as novas áreas verdes e quais mudanças futuras vão ocorrer no ecossistema da Península Antártica. O estudo foi publicado pela revista científica Nature Geoscience no mês de outubro e os mapas gerados por satélites da NASA divulgados recentemente em dezembro. |
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