Quinta-feira, 15 ago 2024 - 15h09
Por Maria Clara Machado
Grandes sistemas naturais ao redor do mundo estão correndo o risco de atingir o chamado ponto de não retorno (tipping points) em razão do aumento das temperaturas globais. As alterações num ecossistema se tornam tão grandes em consequência do aquecimento global, que a região será incapaz de manter o seu estado original com mudanças irreversíveis. É o caso da Grande Barreira de Corais na Austrália.
Grande Barreiras de Corais da Austrália capturada por satélite. Imagem ilustrativa. Crédito: ESA/2005 Uma pesquisa divulgada recentemente pela revista científica Nature revelou que o aumento das temperaturas na superfície do mar (TSM) na Grande Barreira de Corais na Austrália estão atingindo patamares seculares, deixando o maior recife do planeta sob a ameaça de chegar ao ponto de não retorno. Os pesquisadores australianos constataram que as temperaturas nas águas da região são as mais altas em mais de 400 anos na última década. Os cientistas de diversas Universidades do país, entre elas a Universidade de Melbourne, analisaram amostras de núcleos de esqueletos de corais em 22 locais diferentes, reconstruindo uma série histórica de TSMs desde 1618. Com a ajuda de dados capturados por navios e satélites, conseguiram remontar a linha do tempo. Os resultados mostram que as temperaturas naquela região começaram a subir a partir de 1900. Entre 1960 e 2024 o aquecimento anual foi de 0,12°C por década. Ao mesmo tempo, a Grande Barreira de Corais já passou por cinco eventos de branqueamento em massa durante os verões australianos desde 2016. Não por coincidência, os cinco verões em que foi observado o branqueamento em grande extensão na Barreira, ocorreram nos seis anos mais quentes já registrados no planeta nos últimos 407 anos. Além disso, as temperaturas nos três primeiros meses deste ano foram as mais altas já registradas nas águas do recife de corais até agora. Entre janeiro a março de 2024, a temperatura da superfície do mar atingiu uma média de 1,73°C acima da média do período 1899-1618. Gráfico mostra a evolução das temperaturas do mar na Grande Barreira de Corais, indicando os 5 anos de branqueamento em massa. Crédito: divulgação Nature
A Grande Barreira de Corais tida como a “maior estrutura viva da Terra” está localizada ao largo da costa do estado de Queensland, norte da Austrália, tem 2300 quilômetros de extensão e abriga mais de 600 tipos de coral e de 1600 espécies de peixes. A NOAA tem um levantamento em que pelo menos 54 países já sofreram com o branqueamento em massa de seus recifes desde fevereiro de 2023, incluindo os litorais de Alagoas e Pernambuco no Brasil. O renomado climatologista Carlos Nobre ressalta que o branqueamento de corais na Austrália é um dos grandes exemplos de como “a atual crise climática é muito mais grave do que se normalmente se entende”. Além da influência do aquecimento global, regiões costeiras como a Grande Barreira também estão expostas aos eventos meteorológicos severos, cada vez mais frequentes e extremos, como as grandes tempestades e ciclones, que impactam o ecossistema. A alteração na cor dos corais, visível a olho nu, pode ocorrer sempre que as temperaturas marinhas ficam 1°C acima da média num período de longo prazo. Os corais então expulsam as algas que dependem de seus tecidos, resultando na perda das cores. Carlos Nobre destaca que o ponto de não retorno, quando 90% dos corais poderão ser perdidos, é de 1,5°C de aquecimento médio no período de longo prazo. Já o desaparecimento de todas as espécies de corais corre o risco se a temperatura média atingir 2°C acima do período pré-industrial (1850-1900). Em março de 2024, as autoridades australianas acenderam a luz vermelha e afirmam que a Grande Barreira de Corais está vivenciando um processo massivo de branqueamento em consequência das mudanças climáticas. A situação é grave, pois a deterioração das grandes estruturas dos recifes, afeta toda uma diversidade da vida marinha, que constitui os recifes e mantém 25% de toda a biodiversidade dos oceanos. Imagem ilustrativa do processo de branqueamento e deterioração de corais. Crédito: Bruno de Giusti - Obra do próprio, CC BY-SA 2.5 it, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=1607113 |
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