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Quarta-feira, 26 fev 2025 - 08h17
Por Maria Clara Machado
Projeto inusitado no Atacama estuda coletar neblina para combater escassez de água
Pesquisadores estão realizando um projeto inusitado na pequena cidade de Alto Hospicio, na província de Iquique, dominada pelo clima árido do Deserto do Atacama. A ideia é viabilizar água potável para beber e no uso da agricultura para aproximadamente 10 mil pessoas, que vivem em assentamentos na região.
![]() Imagem ilustrativa de Alto Hospicio, região de Tarapacá, Chile. Crédito: reprodução via youtube @IquiquedesdeelaireCl Alto Hospicio está a apenas 600 metros acima do nível do mar e ainda assim é uma das áreas mais secas do planeta, onde a média de precipitação é de 1 mm no ano e o acesso à água é desigual. A cidade teve uma rápida urbanização e hoje milhares de famílias vivem em assentamentos informais sendo que apenas 1,6% estão conectados à rede de distribuição de água. A maioria recebe água por caminhões de aquíferos localizados a cerca de 70 quilômetros de distância. A ideia do projeto é coletar a “camanchaca”, como é chamada a neblina costeira e densa nesta região do Oceano Pacífico, com o intuito de “fazer água” e tentar uma solução para o difícil abastecimento da região. A principal fonte das cidades do Atacama são as rochas subterrâneas, que contêm espaços porosos cheios de água, mas insuficiente para tanta demanda. ![]() Alto Hospicio está a 600 metros acima do nível do mar, ,mas é uma das áreas mais secas do planeta. Crédito: reprodução via youtube @IquiquedesdeelaireCl
![]() Coletor de neblina testado no Deserto do Atacama. Crédito: divulgação via X @EnsedeCiencia ![]() A umidade condensa na malha dos coletores. Crédito: divulgação via X @EnsedeCiencia ![]() As gotas se acumulam e caem em uma calha. Crédito: divulgação via X @EnsedeCiencia Nos testes que duraram um ano em Alto Hospicio, os pesquisadores descobriram que a estrutura consegue gerar diariamente entre 0,2 e 5 litros por metro quadrado, o que seria água suficiente para beber, para a irrigação e a produção agrícola local. Entretanto, este resultado foi observado em maiores altitudes, fora do limite da cidade. Entre agosto e setembro de 2024, pico da temporada, o potencial de coleta atingiu até 10 litros diários por metro quadrado. Num cenário mais amplo, os pesquisadores afirmam que 17 mil metros quadrados de malha poderão produzir água suficiente para atender à demanda semanal de 300 mil litros.
Agora, os pesquisadores avaliam se o projeto será viável, transportando uma solução local já conhecida, para uma escala maior, que efetivamente ofereça recurso hídrico e prático para as cidades. Entretanto, eles ressaltam que são necessários, por exemplo, investimentos em infraestrutura de tubulação e de sistemas de armazenamento de água. Assim como as condições geográficas e do clima também são importantes, incluindo a densidade da neblina, padrões de vento adequados e relevos elevados favoráveis, não esquecendo que a presença de nevoeiro é sazonal. Segundo a pesquisadora Nathalie Verbrugghe, da Universidade de Bruxelas, também coautora do projeto, “o estudo estabelece as bases para uma adoção mais ampla em outras áreas urbanas com escassez de água”. Ele não é a única solução, mas pode fazer parte de uma grande estratégia, completam os pesquisadores. |
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