Quinta-feira, 19 nov 2020 - 17h05
Por Maria Clara Machado
A Índia vive uma temporada de incêndios florestais intensa e incomum, já fazendo 2020 o segundo ano mais ativo nas medições dos focos de fogo por satélites. Imagens de satélites da NASA revelam grande parte do norte e do nordeste do país tomados por fumaça.
Imagem de satélite do dia 9 de novembro revela uma grande extensão de fumaça sobre estados do norte da Índia. Rios de fumaça passam sobre a capital Nova Deli. Crédito: NASA. Todos os anos após o período de monções na Índia, que vai de julho a setembro, os agricultores têm a prática de acender pequenas fogueiras para queimar os talos de arroz e as sobras de palha da colheita e preparar o terreno para o próximo plantio. São quatro meses, de setembro a dezembro, em que a fumaça é abundante no céu especialmente no norte e noroeste da Índia. Dados adquiridos pela passagem de satélites indicam que este ano os incêndios nas áreas de cultivo do arroz foram mais numerosos, com destaque para o estado do Punjab, no extremo norte do país, na fronteira com o Paquistão, que concentrou a grande maioria dos focos. O satélite Suomi NPP, da NASA, mapeou 87 mil focos de fogo ativos até meados de novembro em quatro estados produtores de arroz da região. Além de Punjab, responsável por 80% dos incêndios este ano, milhares de focos também foram detectados em Haryana, Madhya Pradesh e Uttar Pradesh. O estado Madhya Pradesh teve recorde no número de incêndios este ano desde o início das medições. Apesar do grande número de focos, alguns dados foram positivos. Os satélites mostraram que houve uma redução na atividade de fogo em Haryana e Uttar Pradesh desde 2016, muito provavelmente pelo aumento da fiscalização e da proibição da queima de arroz. A imagem do dia 9 de novembro capturada pelo satélite Terra da NASA e divulgada recentemente mostra muita fumaça espalhada nas áreas esbranquiçadas sobre o norte e nordeste da Índia. Além do fogo, emissões de veículos, das fábricas e de outras fontes contribuem para essa situação.
Este ano, as boas chuvas de monções e o aumento no preço do arroz incentivaram os agricultores a plantarem mais do que o normal. Outro fator importante que resultou num grande aumento dos incêndios foi a escassez de mão de obra por conta da pandemia do coronavírus. “Muitos agricultores realizaram a semeadura direta sem transplantar as mudas de viveiros, se traduzindo numa atividade recorde de fogo no Punjab no início da temporada”, explica o cientista Pawan Gupta, um dos responsáveis pela análise de dados de satélites da NASA. Uma observação importante é que uma mudança da época do plantio na Índia feita pelas autoridades a fim de proteger os aquíferos cada vez menores na região, acabou empurrando o período de limpeza dos restos da colheita e a temporada de queimadas para até o final de novembro, quando normalmente as condições do clima não favorecem a dispersão da fumaça sobre a região. A qualidade do ar é ruim e perceptível a olho nu quando o céu fica escurecido no norte da Índia. No último dia 9 de novembro, a capital Nova Deli registrou níveis de partículas poluentes 38 vezes mais do que é considerado seguro para a saúde pelos padrões da Organização Mundial da Saúde (OMS). A animação de partículas de poeira baseada em dados da NASA mostra em marrom escuro os locais onde a fumaça está concentrada atualmente. Crédito: Windy/NASA. A NASA quer melhorar a compreensão sobre o assunto visto que a preocupação na questão dos incêndios florestais mundiais e na qualidade do ar é cada vez mais crescente. “Estamos desenvolvendo habilidades técnicas e educando as pessoas sobre os detalhes de sensores como MODIS e VIIRS para as observações”, afirmou o cientista Gupta da NASA. |
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