Segunda-feira, 11 mar 2024 - 09h28
Por Maria Clara Machado
As ondas de calor na Europa, cada vez mais intensas e frequentes, podem estar sendo favorecidas pelo degelo de água doce do Atlântico Norte. A conclusão é de cientistas do Centro Nacional de Oceanografia (NOC), referência no Reino Unido e uma das principais instituições oceanográficas do mundo.
Imagem ilustrativa de degelo no Ártico. Crédito: reprodução Nasa Os cientistas explicam que o derretimento do gelo marinho e dos glaciares é uma grande fonte de água doce para o Atlântico Norte e dependendo da quantidade, isso altera a circulação normal das correntes de ventos e marinhas, influenciando diretamente o clima global. Estudos anteriores já investigavam a ligação entre a perda amplificada de gelo marinho em altas altitudes a uma maior ocorrência de extremos no clima em latitudes médias. Dados anuais demonstram que a temperatura próxima da superfície do Ártico está aquecendo duas vezes mais rapidamente do que a média global, o que vem levando a uma perda significativa do volume de gelo marinho por década. O período avaliado é de 1979 a 2018. Os pesquisadores então foram mais a fundo e descobriram que as grandes anomalias de água doce no Atlântico Norte dão origem a anomalias de superfície fria e ao desenvolvimento de tempestades na região subpolar durante o inverno. Na sequência, se observou que essas anomalias frias na região subpolar no inverno precedem as ondas de calor na Europa no verão seguinte. As ondas de calor foram atribuídas a uma corrente de jato estacionária sobre o Atlântico Norte em um estudo de 2016 e depois foram reproduzidas com sucesso em simulações de modelos computacionais em 2019. Embora os estudos anteriores mostraram a conexão entre a temperatura da superfície do mar (TSM) do Atlântico Norte e as mudanças na corrente de jato com as ondas de calor europeias, o papel da água doce ainda não estava claro. Sabendo que as regiões árticas vão continuar liberando água doce para o Atlântico Norte proveniente do degelo acelerado em razão do aquecimento global, é fundamental compreender como isso poderá afetar o clima na Europa.
Sol nascendo sobre paisagem de gelo próxima ao Polo Norte. Crédito: James Yungel/NASA Em outras palavras, os cientistas identificaram a relação entre esse degelo e as condições mais favoráveis de bloqueio atmosférico, que resultam nas ondas de calor intenso, afetando principalmente o sul da Europa, em países como Espanha, Portugal, França, Itália e Grécia. Assim sendo, o clima do verão europeu passa a ser mais previsível com grande período de antecedência, em razão dos níveis elevados de água doce, proveniente do degelo no Atlântico Norte. Baseado nos estudos atuais espera-se um verão quente e seco acima do normal novamente no sul da Europa este ano, acreditam os cientistas do NOC. A trajetória da água doce também é importante e poderá, futuramente, afetar o norte da Europa. Será possível, por exemplo, estimar com maior precisão o ano exato de um verão quente e seco no norte europeu já no inverno anterior. Os pesquisadores esperam que essas análises possam contribuir para a melhoria dos modelos computacionais de previsão, permitindo aos países se prepararem para a chance de ondas de calor ainda mais intensas, com verões mais quentes e secos. Vários países europeus ultrapassaram a marca dos 40°C nos últimos eventos extremos. |
Procure no Painel
|
Painelglobal.com.br - Todos os direitos reservados - 2008 - 2024