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Segunda-feira, 12 set 2022 - 09h23
Por Maria Clara Machado

Derretimento da camada de gelo da Groenlândia é o maior já registrado em 43 anos

O derretimento total da camada de gelo em uma extensa área na superfície da Groenlândia está chamando a atenção dos cientistas por ser o maior já registrado em setembro no período de 43 anos. O tamanho da área derretida nunca tinha sido cogitado para um final de temporada.

Vista aérea parcial da Groenlândia, no Ártico, onde o derretimento do gelo na superfície foi recorde neste mês de setembro de 2022. Crédito: Imagem ilustrativa/NASA/John Sonntag
Vista aérea parcial da Groenlândia, no Ártico, onde o derretimento do gelo na superfície foi recorde neste mês de setembro de 2022. Crédito: Imagem ilustrativa/NASA/John Sonntag

O que seria improvável aconteceu
A temporada de derretimento do gelo da Groenlândia, que vai de maio a início de setembro normalmente, começou lentamente este ano.

As temperaturas do ar na região estiveram abaixo da média entre os meses de maio e junho, o que resultou num derretimento de gelo contido, sendo a menor quantidade registrada na primavera em dez anos.

Entretanto, o cenário mudou drasticamente a partir de meados de julho. O primeiro pico de derretimento da cama de gelo na Groenlândia foi alcançado em 18 de julho abrangendo uma superfície em torno de 688 mil quilômetros quadrados.

Semanas depois, dias de calor marcaram o final da temporada de derretimento na região do Ártico e em 3 de setembro o fenômeno atingiu 592 mil quilômetros quadrados da camada de gelo da Groenlândia.

Este foi o segundo pico de derretimento da temporada de 2022 e um evento recorde para um mês de setembro desde que se têm os registros na região em 1979.

Segundo os estudiosos, um derretimento de gelo na Groenlândia nessa proporção em setembro é quase improvável, por estar se aproximando do final do verão, quando as temperaturas sazonais geralmente caem à medida que as horas de luz solar diminuem.

O ar mais quente e úmido que predominou sobre a Groenlândia no começo do mês disparou as temperaturas. Dados comparativos de décadas revelam este aumento. Um mapa gerado pelo modelo GEOS representa as temperaturas do ar 2 metros acima do solo.

Nunca o derretimento do gelo na Groenlândia tinha atingido uma área tão grande em setembro como agora. O mapa mostra os dois picos de 2022 em área perdida de gelo. Crédito: NASA
Nunca o derretimento do gelo na Groenlândia tinha atingido uma área tão grande em setembro como agora. O mapa mostra os dois picos de 2022 em área perdida de gelo. Crédito: NASA

Efeito dominó
São cerca de 1,7 milhão de quilômetros quadrados da Groenlândia cobertos de gelo, ainda a segunda maior camada do planeta depois da Antártida.

O gelo ganha massa naturalmente através do acúmulo de neve e pode ser perdido através do derretimento e escoamento da superfície, além de desprendimentos de icebergs e do derretimento no fundo das geleiras.

O que vem sendo constatado pelo cientistas é que o aumento das temperaturas do ar e da água do mar aumentaram as perdas de gelo nas últimas décadas, superando os ganhos, e tendo implicação no aumento do nível dos mares e oceanos.

O derretimento atual pode ter implicações na camada de gelo já no próximo ano, explicam os cientistas.

A glaciologista Lauren Andrews, da NASA, afirma que eventos de derretimento como o que ocorreu recentemente no início de setembro de 2022 pode afetar as perdas de gelo tanto atuais quanto futuras.

“Quando a estação de derretimento se estende além de sua duração típica, a quantidade total de massa perdida obviamente aumenta”, afirma Andrews.

“Mas, o que não é tão óbvio é que uma estação de derretimento mais longa também atrasa o acúmulo de neve na superfície. Isso pode, por sua vez, afetar a intensidade inicial da próxima temporada de derretimento”

É preciso entender que menos acúmulo de neve no inverno significa que a neve pode derreter mais rapidamente na primavera e expor grandes faixas de gelo relativamente escuro. Em comparação com a neve nova e brilhante, essas superfícies mais escuras absorvem mais energia solar, o que acaba amplificando o derretimento durante os dias mais longos e ensolarados do Ártico.

Ouça também o Podcast Como ficarão nossos oceanos com o derretimento da Groenlândia?

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