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Quarta-feira, 8 nov 2023 - 10h59
Por Maria Clara Machado

Entenda a diferença dos ventos destrutivos que atingiram São Paulo e de um furacão

Potentes fenômenos meteorológicos podem resultar em ventos arrasadores e destrutivos de diversas maneiras, mas o nível dos estragos muitas vezes é semelhante, o que acaba gerando dúvidas sobre o evento ocorrido. A amplitude dos estragos provocados pela ventania, que atingiu São Paulo no dia 3 de novembro, fez muitos pensarem se tratar de um fenômeno como um furacão.

Poste de energia elétrica derrubado em bairro de Cotia, na Grande São Paulo, durante ventania na sexta-feira. Crédito: reprodução redes sociais
Poste de energia elétrica derrubado em bairro de Cotia, na Grande São Paulo, durante ventania na sexta-feira. Crédito: reprodução redes sociais

Grandes ondas invadem praia de Laguna e levam tudo pela frente como um tsunami

A meteorologia alertava para a formação de um ciclone extratropical próximo ao litoral do Rio Grande do Sul e que na sequência daria origem a uma frente fria. As nuvens carregadas se formaram sobre todo o Sul e avançaram do Paraná para São Paulo durante a chegada da frente fria na tarde da sexta-feira.

O choque do ar quente que estava sobre o estado de São Paulo com o ar frio levado pela frente fria, já era suficiente para formar as nuvens do tipo cumulonimbus, de grande desenvolvimento vertical, e que normalmente resultam em chuva forte, rajadas de vento e descargas elétricas.

De acordo com a análise dos meteorologistas da METSUL, neste processo uma potente linha de instabilidade avançou sobre o interior do estado de São Paulo e provocou as fortes rajadas de vento, mais intensas na Grande São Paulo e no litoral paulista, registradas no fim da tarde. Foram os ventos mais fortes observados desde 1995, segundo a Prefeitura de São Paulo.

As rajadas de vento mais fortes foram registradas no aeroporto de Congonhas, na zona sul da capital paulista, chegando a 104 km/h às 16h15 e a 151 km/h na estação meteorológica da Praticagem do Porto de Santos, na Baixada Santista.

Em outras localidades da cidade de São Paulo, foram registradas rajadas de vento na ordem de 50 km/h a 94 km/h, de acordo com dados do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) e do Centro de Gerenciamento de Emergências da Prefeitura de São Paulo (CGE).

Imagem de satélite mostra grandes instabilidades sobre o Sul do Brasil e o estado de SP no dia 3 de novembro durante a formação de uma frente fria. Crédito: Worldview/NASA
Imagem de satélite mostra grandes instabilidades sobre o Sul do Brasil e o estado de SP no dia 3 de novembro durante a formação de uma frente fria. Crédito: Worldview/NASA

Imagem de satélite mostra o ciclone em alto mar associado a frente fria já distante do estado de SP no dia 4 de novembro. Crédito: Worldview/NASA
Imagem de satélite mostra o ciclone em alto mar associado a frente fria já distante do estado de SP no dia 4 de novembro. Crédito: Worldview/NASA

O temporal provocou cerca de 2 mil ocorrências por queda de árvores e inúmeros danos em postes da rede elétrica, mergulhando a Grande São Paulo num apagão de mais de cinco dias.

Árvore de grande porte interrompe rua na Vila Mariana após temporal da sexta-feira. Crédito: Painel Global
Árvore de grande porte interrompe rua na Vila Mariana após temporal da sexta-feira. Crédito: Painel Global

O evento extremo de clima mostrou a enorme vulnerabilidade da região metropolitana na qual não está preparada. Os estragos na rede elétrica deixaram mais de 2 milhões de imóveis sem energia, somente na capital paulista, de acordo com as informações da ENEL. Problemas com o abastecimento de água também se multiplicaram.

A Grande São Paulo entra no quinto dia com falta de energia elétrica ainda para 14 mil consumidores. Bairros e ruas de Cotia continuavam sem luz no início da manhã desta quarta-feira, dia 8, e a ANEEL não conseguiu cumprir o prazo estabelecido de normalização dos serviços pela Agência até o final da terça-feira.

Os ventos fortes também provocaram destelhamentos e queda de estruturas metálicas em várias cidades do estado de São Paulo.

Por que parecia um furacão?
A violência dos ventos e dos estragos lembrou o cenário de um furacão, mas a origem da ventania foi bem diferente.

A grande linha de instabilidade que varreu São Paulo chegou a ter 400 quilômetros de extensão e as rajadas de vento registradas foram com velocidades diferentes, embora fortes.

Radar meteorológico detectou a grande linha de instabilidade e suas áreas de chuva forte sobre São Paulo na tarde do dia 3 de novembro. Crédito: IPMET/Unesp
Radar meteorológico detectou a grande linha de instabilidade e suas áreas de chuva forte sobre São Paulo na tarde do dia 3 de novembro. Crédito: IPMET/Unesp

Uma linha de instabilidade é uma zona de instabilidade, em que uma série de tempestades surge de forma alinhada e se deslocam de maneira uniforme com duração, em geral, de algumas horas. O sistema provoca ventos fortes de intensidades diferentes à medida que avança. Não há ventos uniformes sustentados na mesma velocidade por várias horas ou até dias, como acontece na atuação de um furacão.

Quando um furacão se forma, o fenômeno ganha tamanho e intensidade sobre as águas quentes do oceano, e pode também atingir quilômetros de diâmetro a partir de um núcleo. Mas, visivelmente por satélite, ele é um fenômeno extenso e circular e que produz ventos fortes sustentados por um longo período.

A intensidade das rajadas de vento de um furacão atinge 5 categorias, que indicam a potência da tormenta pela escala Saffir-Simpson.

Rajadas de vento de 151 km/h como ocorreram na Baixada Santista no dia 3 de novembro são equivalentes aos ventos de um furacão categoria 1, embora a origem dos ventos que atingiram São Paulo tenha sido completamente diferente.

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