Terça-feira, 24 out 2023 - 10h30
Por Maria Clara Machado
Os arqueólogos foram surpreendidos nos últimos dias por novas gravuras rupestres, que começaram a aparecer à margem do rio Negro, em Manaus, próximo ao Encontro das Águas, devido à seca histórica de 2023. As gravuras estão no sítio arqueológico e geológico das Lajes e só conseguem ser vistas quando o rio seca muito, como aconteceu também na estiagem severa de 2010.
Gravuras rupestres apareceram recentemente com a seca histórica do rio Negro, em Manaus. Crédito: Valter Calheiros/divulgação
Agora com o menor nível do rio Negro já observado na história em outubro de 2023, novas gravuras estão aparecendo. Segundo o pesquisador e ambientalista Valter Calheiros, entre 10 a 12 gravuras apareceram nos últimos dias, algumas já vistas em 2010 e outras inéditas. Arqueólogos explicam que datar as gravuras com exatidão é complexo, mas que se sabe que populações indígenas moravam em aldeias na região do Encontro das Águas nesta época. Além disso, existe uma grande semelhança entre as gravuras do rio Negro e as gravuras do sítio Caretas, no rio Urubu, em Itacoatiara, localizado a 175 quilômetros de Manaus. Por estudos comparativos, é possível estimar a semelhança e a data das gravuras dos sítios Lajes e Caretas, chegando ao período de mil a 2 mil anos atrás. As imagens são de pequenos rostos humanos, animais, representações das águas com cortes nas rochas e indicam que as ferramentas foram confeccionadas para as gravuras ali mesmo. Os especialistas contam que há outro bloco rochoso de gravuras ainda submerso, mas que pode aparecer nos próximos dias, se o rio continuar baixando. Inscrições na pedra que reapareceram com a seca no sítio arqueológico das Lajes. Crédito: Alberto César Araújo/Amazônia Real Uma das inscrições que reapareceram com a seca do rio Negro, em Manaus. Crédito: Alberto César Araújo/Amazônia Real Arqueólogos ainda chamam a atenção para duas hipóteses. As gravuras podem ter sido feitas numa época de grande seca no passado ou ocorreram outros episódios de secas no passado. Entretanto, seriam situações diferentes da atual, pois agora as secas estão inseridas no processo das mudanças climáticas, acompanhadas por impactos de degradação florestal. O sítio das Lajes é o primeiro de Manaus a ter reconhecimento no Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), mas é motivo de preocupação por estar sofrendo degradação por ações inadequadas de visitantes, que tem acesso livre ao local, relatam os pesquisadores.
Vista do rio Negro, afluente do Amazonas, que enfrenta a pior seca em 120 anos de medições. Crédito: Carlos Oliveira e Mário Melo/Fotos Públicas As águas desceram mais e novos recordes negativos sucessivos foram registrados no decorrer da última semana pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB). O nível do rio Negro estava em 12,89 metros na medição da segunda-feira, dia 23 e 12,74 metros na manhã desta terça-feira, dia 24 de outubro. A maior cheia do rio Negro é de 30,02 metros, registrada em 16 de junho de 2021. A seca dos rios isola atualmente 63 comunidades ribeirinhas e afeta cerca de 600 mil pessoas em todo o estado do Amazonas. 59 municípios estão em situação de emergência. |
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