Segunda-feira, 8 jan 2024 - 11h58
Por Maria Clara Machado
A comunidade científica norte-americana do USGS está tentando entender porque as águas estão mudando de cor e ficando alaranjadas em dezenas de rios e riachos no Alasca. As pesquisas mais recentes foram publicadas na revista referência Scientific American e associam o fenômeno à aceleração das mudanças climáticas.
Afluente do rio Kugororuk está laranja no Alasca. Os cientistas estão tentando descobrir o que está acontecendo. Crédito: JOSH KOCH/USGS
Os dados mostram que essas águas eram cristalinas até o ano de 2019, mas depois começaram a se tornar verde-alaranjadas, num tom de ferrugem, ficando bastante evidente em vários trechos em dezembro de 2023. Segundo os pesquisadores, essa alteração na coloração das águas vem sendo observada em vários riachos e rios de toda a cordilheira de Brooks, no Alasca e certamente está acontecendo em outras regiões remotas do Ártico, como na Rússia e no Canadá. Em torno de 75 rios e riachos de Brooks apresentaram a mudança de cor nos últimos 10 anos. O Rio Salmon que já foi um dos mais remotos da América, famoso por águas claras excepcionais na década de 1980 e com grandes extensões de salmão, tem agora riachos cheios de minerais de ferro oxidado e ácidos por mais de um terço do rio. Os cientistas que estudaram estes rios enferrujados acreditam que o ritmo acelerado do aquecimento na região devido às mudanças climáticas pode estar causando o fenômeno da alteração súbita da cor dos rios. Um grupo de pesquisadores foi a campo e realizou coletas de água em diversos trechos do Salmon, atestando a alta concentração de ferro e ácido sulfúrico e o oxigênio extremamente baixo. “Os trechos mais altos do Salmon têm águas claras, mas alguns riachos estavam tão cheios de ferro, que eram metade laranja e metade verde”, descreveram os pesquisadores. O Parque Nacional do Vale Kobuk aqueceu 2,4°C desde 2006 e poderá ficar dez graus mais quente até o final do século, afirmam os estudiosos.
Localização da Cordilheira de Brooks, no Alasca, onde rios e riachos estão adquirindo a cor laranja ferrugem. Crédito: GoogleMaps Quando há derretimento do permafrost há liberação de compostos químicos como mercúrio e gases, que aceleram o próprio aquecimento global. Os cientistas trabalham com a teoria de que o calor possa ter começado a descongelar 40% do permafrost, mas como exatamente isso está tornando os rios alaranjados ainda é um mistério para a comunidade. Alguns pesquisadores acreditam que o ácido dos minerais esteja soltando o ferro da rocha, exposta à água pela primeira vez. Quando esses sedimentos atingem a água corrente e o ar, oxidam e adquirem a cor laranja. Também o descongelamento do solo permafrost sob uma zona úmida permite que bactérias transportem ferro do solo para um riacho oxigenado, que por sua vez se oxida novamente e torna a cor da água laranja. Outro desafio é entender o impacto que essas alterações possam representar nos rios tanto para a vida selvagem, quanto para as oito aldeias nativas, que dependem diretamente da Cordilheira de Brooks para abastecimento de água potável e a pesca. Se as hipóteses estiverem corretas, o ecossistema pode estar potencialmente ameaçado. Os lugares onde existe o permafrost inclui uma área aproximada de um quarto do Hemisfério Norte. O Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS) continua investigando as alterações dos rios no Alasca e o início das transformações, trabalhando com as hipóteses relacionadas ao clima global e o degelo da região. |
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